Complexo de Édipo feminino: uma revisão a partir de críticas internas e externas à psicanálise.

1 Janeiro 2014
Complexo de Édipo feminino: uma revisão a partir de críticas internas e externas à psicanálise.

Beatriz Barbosa Fejgelman

Orientadora: Profa. Dra. Patricia Porchat Pereira da Silva Knudsen

Resumo

Este estudo se fundamenta na concepção freudiana da sexualidade feminina trazendo diversos conceitos da psicanálise construídos por Freud como a sexualidade infantil, monismo sexual, inveja do pênis, complexo de castração e, principalmente, o complexo de édipo feminino. Estes conceitos são, posteriormente, criticados pelas autoras feministas, Melanie Klein e Karen Horney, representantes da escola inglesa de psicanálise, das décadas de 1920 e 1930, e pela autora antropóloga feminista da década de 1970, Gayle Rubin. Estas autoras foram escolhidas pois participam de momentos de grande mudança social e cultural no que tange às relações entre os gêneros. Assim, buscou-se compreender e discutir a posição das autoras acerca do complexo de Édipo na mulher em Freud, passando por discussões sobre a homossexualidade feminina, atividade e passividade e curiosidade sexual infantil.

Introdução

A obra de Sigmund Freud trouxe conceitos inovadores para sua época como o da sexualidade infantil, que revolucionou os estudos sobre a psicologia. O desenvolvimento da concepção freudiana da sexualidade feminina também provocou muitas discussões, tanto na comunidade psicanalítica, mas também em outras áreas do conhecimento.

Com a publicação dos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” em 1905, Sigmund Freud apresentou novos conceitos sobre a sexualidade humana mas, principalmente, trouxe a visão de uma sexualidade infantil que causou grande polemica na época. Neste modelo inicial da sexualidade Freud defende a tese de uma essência “masculina” da libido, de um monismo sexual, em que as crianças apenas reconhecem o órgão masculino e desconhecem por completo a vagina. Porém, ao mesmo tempo, o autor destaca o clitóris com um papel correspondente ao pênis, gerando assim, na menina, a sensação de ter sido provida de um órgão castrado e nos meninos, o medo da castração.

Para Freud, a sexualidade feminina gira em torno do falo e, a partir desse pressuposto, desenvolve o conceito de inveja do pênis, muito criticado posteriormente, principalmente por psicanalistas mulheres e por feministas. A teoria do complexo de Édipo desenvolvida pelo autor exemplifica a sexualidade feminina a partir da ausência do falo. A percepção dessa ausência é deslocada para o desejo de ter um filho do pai, como substituto daquilo que não possui. Uma fase anterior descrita por Freud é a fase pré-edípica, em que a mãe é o objeto de amor da menina. Nesse sentido, a menina passaria de um objeto do mesmo sexo para um do sexo oposto:

“A sexualidade da menina se organiza, segundo Freud, em torno do falicismo: ela quer ser um menino. No momento do Édipo, deseja um filho do pai, e esse novo objeto é investido de um valor fálico. Ao contrário do menino, a menina tem que se desligar de um objeto do mesmo sexo, a mãe, por um objeto de sexo diferente.” (ROUDINESCO, 1997, p. 706)

Partindo de um ponto inicial, o desenvolvimento das relações de objeto para Freud começa com o autoerotismo, em que a separação entre bebê e mãe praticamente não existe. Em seguida, passa para o narcisismo primário em que a criança se coloca no lugar de objeto da mãe, mas já identifica uma diferenciação entre ela e a mãe. Só depois de passar por estes estágios, inicia o complexo de Édipo, no qual a criança vai se identificar com a mãe ou com o pai, normalmente com aquele de sexo semelhante, e promover como objeto o genitor do sexo oposto. Por exemplo, a menina se identificaria com a mãe e buscaria o pai.

A partir destes conceitos elaborados por Freud, as autoras Melanie Klein, Karen Horney e Gayle Rubin elaboram algumas críticas quanto à teoria do desenvolvimento da sexualidade infantil da mulher. Melanie Klein propõe, por exemplo, que o complexo de Édipo ocorre em um período mais cedo do que proposto por Freud, e também elabora o complexo de feminilidade no qual cria um paralelo entre a falta dos órgãos receptivos nos meninos e a falta do pênis nas meninas.

Karen Horney busca compreender entre outras conceitos a inveja do pênis que para ela está ligado ao desejo de urinar como os homens que, para isso, tem a permissão para tocar seu órgão genital e que seria associado a uma suposta permissão para se masturbar que as meninas seriam privadas. Gayle Rubin traz uma perspectiva social do complexo de Édipo, questionando por exemplo a divisão de gênero e a obrigatoriedade da heterossexualidade. Ela propõe que a sexualidade feminina é fortemente reprimida pela sociedade em que o homem tem poder sobre a mulher.

Para abranger as ideias desses três psicanalistas o trabalho foi dividido em dois capítulos. O primeiro faz uma retomada dos conceitos de Freud sobre o desenvolvimento da sexualidade infantil para melhor compreender o complexo de Édipo feminino. Acompanhamos as evoluções feitas por Freud nesta temática entre os anos 1905 a 1932. Para uma melhor discussão sobre o complexo de Édipo feminino separamos este capítulo em três subitens, de acordo com críticas que compreendemos ser relevantes ao assunto como a questão da homossexualidade feminina ligada à inveja do pênis, a dualidade entre atividade e passividade - que é muitas vezes ligada aos gêneros masculino e feminino - e a relação entre a curiosidade infantil descrita por Freud e o desconhecimento da vagina pela menina pequena.

O segundo capítulo é dedicado a compreender e discutir a posição das autoras psicanalistas da escola inglesa, Melanie Klein e Karen Horney, e a antropóloga feminista Gayle Rubin acerca do complexo de Édipo na mulher em Freud. Foram selecionados textos das décadas de 1920 e 1930, contemporâneos aos de Freud, nos quais podemos encontrar citações diretas do autor e um texto de 1975 em que poderemos criar um panorama do desenvolvimento dessas críticas no decorrer do diferente tempo histórico. Assim, foi possível refletir sobre a atualidade e compatibilidade deste conceito com a mulher da sociedade contemporânea.

Capétulo 1: Freud de 1905 a 1932

Em relação ao destino da menina no complexo de Édipo, vemos em Freud um desenvolvimento de sua teoria, partindo do texto “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” de 1905, em que introduz a temática da sexualidade infantil, até o texto “Feminilidade”, Conferência XXXIII em 1932, em que retoma conceitos sobre a sexualidade feminina por ele elaborados. Durante esse período, Freud desenvolve várias teorias sobre a sexualidade feminina, mas para os fins dessa pesquisa, destacaremos alguns aspectos que chamaram a nossa atenção e que orientarão a nossa investigação. São eles: atividade e passividade, curiosidade infantil e homossexualidade. A partir daí, abordaremos as diferenças entre os sexos no complexo de Édipo.

Para compreender a visão de Freud sobre o Complexo de Édipo feminino é preciso retomar conceitos fundamentais sobre sexualidade, tanto feminina quanto masculina, elaborados por Freud. Muitos desses conceitos foram introduzidos no texto “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), porém, vale ressaltar que Freud fez muitas alterações após sua publicação até o ano de 1924, em formato de notas de rodapé, alguns parágrafos e até capítulos inteiros e, por meio destes, acrescenta conceitos elaborados posteriormente.

Introduziremos a visão freudiana do Complexo de Édipo a partir da leitura dos seguintes textos; “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), “Organização genital infantil (Uma interpolação na teoria da sexualidade)” (1923), “A dissolução do complexo de Édipo” (1924), “Algumas consequências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos” (1925), “Sexualidade feminina” (1931), “Novas conferências introdutórias sobre psicanálise – Conferência XXXIII (Feminilidade)” (1932).

Os três ensaios sobre a sexualidade foram publicados em 1905, período que antecede a primeira guerra mundial e de grandes avanços científicos. No texto, Freud elabora importantes conceitos sobre a sexualidade para a psicanálise que formam uma base teórica sobre o tema. Ele divide o texto em três ensaios, sendo eles “Aberrações Sexuais”, “A Sexualidade Infantil” e “As Transformações da Puberdade”, cada um estudando a sexualidade em um estágio da vida, adulto, criança e adolescência, respectivamente.

Para a compreensão da sexualidade, se faz necessário apresentar um conceito muito importante, que é o de pulsão, formulado nos Três Ensaios sobre a Sexualidade. Laplanche e Pontalis o descrevem como:

“Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir sua meta”. (LAPLANCHE; PONTALIS, 1982, p. 394)

A partir desta definição se torna possível compreender outros termos base para o nosso estudo como objeto e alvo sexual, em que objeto sexual seria a pessoa de quem provém a atração sexual e alvo sexual sendo o objetivo de satisfação da pulsão e obtenção de prazer.

As pulsões não são fixas e podem ter novos alvos e objetos no decorrer da vida e conforme o desenvolvimento infantil. Para melhor compreensão do desenvolvimento infantil e sua relação com a sexualidade Freud, divide a infância em fases sexuais, porém, as fases pré-genitais são caracterizadas por ainda não manterem uma centralidade da zona genital e por serem autoeróticas da libido.

A primeira organização sexual pré-genital é a oral, que tem como exemplo o ato de sugar com prazer, como por exemplo quando as crianças chupam o dedo. A segunda fase é a sádico-anal em que a atividade de retenção e expulsão de fezes é produzida pela pulsão de dominação. Nesta fase já se observa uma polaridade sexual entre atividade e passividade, e uma relação com um objeto alheio ao corpo, porém diferente da organização adulta. Essa fase ainda não está subordinada a uma função reprodutora. Depois, passa pela fase fálica e, em seguida, a criança passa por uma fase de latência até a fase genital.

A fase fálica foi elaborada após as fases oral e anal, como explicita Laplanche e Pontalis: “A noção de fase fálica é tardia em Freud, pois só em 1923 (A organização genital infantil) aparece explicitamente”.

É na fase fálica que ocorre o complexo de Édipo e outros processos da sexualidade que serão aqui abordados, como o complexo de castração e a formação do superego. Esses conceitos foram se modificando durante os textos de Freud, mas aqui foram sintetizados de uma maneira didática para uma melhor compreensão dos conceitos que serão abordados.

O complexo de Édipo, como foi primeiramente elaborado, que apresenta a mãe como objeto e o pai como rival, só faz sentido para os homens. Durante o complexo de Édipo, o menino mantém o mesmo objeto de sua fase pré- edípica, a mãe, e considera o pai como oponente para conquistar a atenção da mãe. Neste momento, ele se encontra na fase fálico-genital e começa uma atividade masturbatória que é utilizada como descarga para a excitação sexual.

A manipulação frequente do menino de seu órgão sexual é reprovada pelos adultos com ameaças de que ele irá perder seu pênis. Essa ameaça de castração contribui para a dissolução do complexo de Édipo, porém ela só se torna efetiva quando o menino vê a região genital feminina e se depara com alguém tão semelhante, porém sem pênis, supostamente castrado. O menino então abre mão de seu amor pela mãe pelo medo da castração e se identifica com o pai. A autoridade do pai é introjetada no ego formando o núcleo do superego perpetuando a proibição do incesto e o acesso a outras mulheres. Através desse processo, ocorre a destruição do complexo de Édipo e não apenas uma mera repressão deste, pois assim persistiria em um estado inconsciente e manifestaria mais tarde seu efeito patogênico.

O complexo de Édipo feminino, diferentemente do masculino, depende do abandono do objeto original, a mãe, para tornar o pai seu novo objeto. Para explicar essa mudança de objeto, Freud volta à pré-história da relação edipiana feminina e de sua descoberta da zona genital. Essa descoberta é, para ele, ocasional e a masturbação, a princípio, não está vinculada às catexias objetais.

Freud cria então hipóteses dos motivos para a desilusão da menina com a mãe, como por exemplo, quando a mãe deixa de lhe dar leite, ou por outros desapontamentos e proibições de prazer impostos à filha. Essa teoria falha, pois o sentimento de falta e incompletude em relação à mãe ocorre também com o menino e este a mantém como objeto apesar destes fatores. Assim, foi necessário buscar um fator específico que fizesse a menina abandonar seu vínculo com a mãe. Esse fator para Freud é o complexo de castração. “As meninas responsabilizam sua mãe pela falta de pênis nelas e não a perdoam por terem sido, deste modo, colocadas em desvantagem” (FREUD, 1932, p. 124). A menina se sente injustiçada e passa a ter inveja do pênis, o que para Freud, marcará seu desenvolvimento e até a formação de seu caráter de forma permanente.

A menina castrada sente uma ferida narcísica por sua incompletude que resulta em um sentimento de inferioridade. Ela então, troca sua hipótese de não ter um pênis por causa de uma punição pessoal, de que ela não foi merecedora do pênis, e passa a compreender que esse é um caráter sexual universal. Passa a desprezar o “sexo inferior”, assim como os homens, e inveja a posição deles. Ou seja, a menina, para Freud, desloca a inveja do pênis por ciúmes geral dos homens, querendo ser um deles.

O desejo de ter um pênis da menina se transforma, posteriormente, no desejo de ter um filho, tomando assim, o pai como novo objeto de amor e a mãe como objeto de ciúmes. Com isso, Freud conclui uma grande diferença da função do complexo de castração com relação ao complexo de Édipo nas meninas e nos meninos. Enquanto, nos meninos, o complexo de castração destrói o complexo de Édipo, nas meninas ele introduz ao complexo de Édipo. Essa diferença se justifica, pois supostamente o complexo de castração inibe a masculinidade e incentiva a feminilidade.

Por fim, Freud supõe que o complexo de Édipo feminino deve ser lentamente abandonado e reprimido ou seus efeitos podem persistir durante a vida mental normal das mulheres. Diferente dos homens, nas mulheres não há um processo rígido de internalização da instância paterna para a criação do superego. Isso, para Freud, explicaria uma divergência quanto ao senso ético dos sexos, no qual as mulheres teriam maior dificuldade de separar a razão da emoção. Pode-se ver isso em sua fala:

“Os traços de caráter que críticos de todas as épocas erigiram contra as mulheres – demonstram menor senso de justiça que os homens, que estão menos aptas a submeter-se às grandes exigências da vida, que são mais amiúde influenciadas em seus julgamentos por sentimentos de afeição ou hostilidade – todos eles seriam amplamente explicados pela modificação na formação de seu superego que acima inferimos.” (FREUD, 1925, p. 2863)

A partir de agora, vamos examinar os aspectos que havíamos destacado no início desse texto.

Atividade e Passividade

Freud começa a abordar o tema da relação entre atividade e passividade na sexualidade em seu texto de 1905 “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Ao apresentar as aberrações sexuais, Freud busca compreender os diferentes objetos e alvos sexuais que sejam compatíveis com as diferentes pulsões sexuais para que esta se alivie. Lembremos que a ligação entre pulsão sexual e objeto não é tão rígida e que de início a pulsão sexual é independente de seu objeto.

A satisfação de uma pulsão pode ser vinculada com diversos objetos, sendo eles aceitos pela sociedade ou não, objetos estes, por exemplo, animais, pessoas do mesmo sexo, crianças entre outros. O alvo sexual ou o meio para a satisfação dessa pulsão é que traz o questionamento das posições ativa e passiva. Freud considera como alvo sexual tanto a união de genitais (masculino e feminino) designados ao coito, quanto qualquer outra maneira de satisfação sexual total (e não como parcial ou preliminar) como por exemplo, sexo oral e anal, a exibição e o olhar, e as relações sádicas e masoquistas.

Todos os alvos sexuais citados trazem uma relação de atividade e passividade, mesmo que em alguns mais aparentes que em outros. Atividade e passividade constituem uma dualidade que também pode ser encontrada em outros aspectos como o biológico, entre homem e mulher, e outro de gênero entre masculino e feminino. Apesar de se preocupar em especificar que feminino não se restringe apenas às características exclusivas da mulher, e nem masculino ao homem, durante seus textos algumas vezes passa a utilizá-los como sinônimos. Além disso, junto a essas dualidades às de alvo sexual para falar das questões de atividade e passividade.

Todas as citações dos textos do Freud se referem a edição xxx de 1996, mas por se tratar de um estudo que privilegia o desenvolvimento de seus conceitos em ordem cronológica, indicaremos a data de publicação do texto original no final de cada citação.

Para Freud esse contraste entre atividade e passividade compõe a base de características universais da vida sexual. Além disso, para ele, ambas as formas, ativa e passiva se encontram juntas na mesma pessoa, ainda que uma delas se desenvolva com maior intensidade. E ainda, afirma em seu livro “Três ensaios sobre a sexualidade infantil” que:

“Ficamos tentados a relacionar a presença simultânea desses opostos com a oposição entre masculino e feminino, que se combina na bissexualidade, oposição que amiúde é substituída na psicanálise pelo contraste entre ativo e passivo” (FREUD, 1905a, p. 151).

Neste mesmo livro, Freud relaciona, porém, as meninas com uma posição passiva. Para ele, as meninas ainda cedo já teriam um maior recalcamento sexual. Logo nas pulsões parciais, elas prefeririam a forma passiva. Freud acentua, porém, que “a libido seja descrita no texto como masculina, pois a pulsão é sempre ativa, mesmo quando estabelece para si um alvo passivo” (FREUD, 1905a, p. 207). Neste caso ele coloca como sinônimos masculinidade e atividade.

As posições ativa e passiva estão presentes também nas relações do complexo de Édipo aqui estudado. Para Freud o complexo de Édipo, assim como sua dissolução, são definidos pelo sexo da criança. Essas diferenças entre os sexos estão presentes no decorrer de seus textos. Primeiramente, para as meninas, elaborou o complexo de Electra que era apenas uma simples inversão do sexo do objeto de desejo (de mãe para pai), porém muito foi reelaborado durante os anos como veremos no decorrer deste texto.

As diferenças entre os sexos, durante o complexo de Édipo, vão se mostrando já nas supostas relações de desejo de cada um. Freud deixa a posição de cada sexo bem clara perante seu objeto de desejo no texto “A dissolução do complexo de Édipo” em 1924, em frases como: “A menina gosta de considerar-se como aquilo que seu pai ama acima de tudo” e “O menino encara a mãe como sua propriedade”. Assim, desde pequena, a menina para Freud, já se coloca em uma posição passiva em que quer ser desejada, e o menino em uma posição ativa de possuidor do objeto de desejo, misturando assim gênero e posições ativas e passivas. Neste mesmo texto, Freud diz que as posições ativa e passiva, são estabelecidas desde as primeiras relações de afeto, no entanto, não têm suas origens explicadas e tampouco podem ser inatas.

Logo em seguida, em seu texto de 1925, “Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos”, Freud acentua a orientação dupla, ativa e passiva, do complexo de Édipo no próprio menino e explica que em uma constituição bissexual, o menino também desejaria tomar o lugar da mãe como objeto de amor do pai, porém, não explica como ocorre o desejo por ambos os sexos em uma mesma pessoa e nem qual posição ativa ou passiva ocuparia. E se ambos, pai e mãe, podem ser objeto do menino, que fatores definiriam um objeto principal?

Freud se dedica também a descrever uma dupla posição, ativa e passiva na menina em relação a uma suposta passagem de sua zona sexual dominante, já em 1905. Para ele, as meninas têm como zona dominante o clitóris, e desde pequenas podem apresentar uma masturbação nesta região. Na puberdade, a menina se utiliza da excitação do clitóris para efetuar uma transferência desta excitação para a vagina anteriormente “anestesiada”. Quando essa transferência é bem sucedida sua zona sexual dominante passa a ser a vagina. Abandona a zona do clitóris completamente, que simbolizava uma masculinidade infantil por envolver uma posição mais ativa. Aqui, observamos uma junção dos conceitos de atividade e masculinidade e de zonas sexuais com atividade e passividade.

Freud, em 1925 ainda vê como condição necessária para o desenvolvimento da feminilidade a eliminação da sexualidade clitoriana. Além disso, se refere com estranheza ao ato feminino de tão violentamente abrir mão desse prazer masturbatório, o que se explicaria por um sentimento de humilhação narcísica ligada à inveja do pênis. Para ele, a menina jamais poderia competir com o menino neste quesito, e então desiste de tentar e torna-se feminina, como podemos ver em seu texto:

“Seu reconhecimento da distinção anatômica entre os sexos força-a afastar-se da masculinidade e da masturbação masculina, para novas linhas que conduzem ao desenvolvimento da feminilidade”. (FREUD, 1925, p. 284)

Em 1931, em seu texto “Sexualidade feminina”, Freud retoma essa duplicidade na menina, porém por um enfoque do seu objeto de desejo. Ele resgata as duas zonas sexuais diretoras na menina, a vagina e o clitóris, porém determina que a vagina em si é feminina e o clitóris é análogo ao pênis e portanto masculino. Assim, ela passaria por duas fases, a primeira masculina, durante o período pré-edípico em que a mãe é seu objeto de desejo, e posteriormente, no complexo de Édipo, ela trocaria de objeto sexual, da mãe para o pai, e passaria para uma fase feminina. Neste texto, Freud contradiz sua antiga posição de que a zona do clitóris era abandonada por completo e elabora que, nesta segunda fase, a feminina, a função do clitóris pode persistir de uma maneira secundária. Mas Freud diz não compreender qual seria então a sua função.

Apesar de tomar o cuidado de diferenciar os conjuntos masculino e feminino de ativo e passivo, em trechos como os descritos acima, Freud, acaba por misturá-los e os coloca como simples sinônimos. Além disso, não explora que essa passagem de fases na menina também representa uma troca de sexualidade, de homossexualidade para heterossexualidade, como veremos melhor no próximo subitem. Outra questão importante a ser levantada, é que em seus textos, transparece como destino mais adaptado para as mulheres o de aceitar uma suposta feminilidade que lhe é esperada.

Junto à aceitação da feminilidade, para Freud, as meninas se compreendem como inferiores aos homens por não terem um pênis, “Uma mulher, após ter-se dado conta da ferida ao seu narcisismo, desenvolve como cicatriz um sentimento de inferioridade.” (FREUD, 1925, P. 282). Este julgamento que Freud faz da mulher como alguém inferior, pode na verdade ser um resultado da visão social em que a mulher, por ser muitas vezes menosprezada em nossa sociedade, percebe-se numa posição aquém a do homem. Porém, acreditar que a mulher se sente física e psiquicamente inferior, e é vista como tal também pelos homens, pode ser uma supervalorização da importância do pênis nas relações humanas. Além disso, a inferioridade que é por Freud vista como intrínseca à mulher não poderia ser melhor compreendida como produto de uma questão social?

Por fim, para compreender as relações ativas e passivas na menina, voltamos para sua fase pré-edípica. Para entender melhor essa relação com a mãe, Freud discute a posição ativa ou passiva da menina perante ela e conclui que ambas existem. No começo desta relação, a mãe supre todas as necessidades da filha, que a aceita passivamente, mas logo esta começa a interagir ativamente com a realidade, porém, imitando comportamentos aprendidos. A menina passa, por exemplo, a brincar de boneca com uma posição ativa, mas também feminina, em que ela cuida da boneca, o que também demonstra uma exclusividade da ligação com a mãe.

A mãe vira um modelo de como agir para a menina, tanto para seus comportamentos passivos, quanto para comportamentos ativos com essa mãe. Freud em seu texto de 1931 cita como um comportamento passivo na menina, as lavagens intestinais que eram realizadas por suas mães. Por outro lado, os comportamentos ativos dela com a mãe eram constantes e junto surgiriam desejos intensos, culminando na masturbação do clitóris, durante a qual, para Freud, a menina provavelmente pensa na mãe. Com a chegada de um irmão, a menina chegaria até a desejar ter feito esse nova criança com a mãe. Freud não deixa claro, porém, como a menina abandonaria sua posição ativa, ou o quanto uma posição ativa seria contraria à feminilidade.

Homossexualidade

A questão da sexualidade foi sempre muito abordada nos textos de Freud, e não se pode deixar de falar dos “desvios” desta sexualidade. Em 1905 com os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud dedica seu primeiro ensaio para tratar as aberrações sexuais, e entre elas descreve as pessoas invertidas, que teriam como objeto uma pessoa do mesmo sexo. Para ele pessoas invertidas são divididas em subtipos: absolutas (sempre foram invertidos), anfígenas (tem como objetos ambos os sexos) e ocasionais (dentro de determinadas situações tornam-se invertidos).

No período em que foram escritos os ensaios, essas pessoas eram tidas como aberrações e sua natureza era atribuída à degeneração ou a seu caráter inato. Freud refuta a primeira teoria, porém, fala que a inversão não é de caráter totalmente inato, tendo certo caráter adquirido. E chega à conclusão de que explicar a inversão apenas por seu caráter adquirido não é suficiente, assim como não apenas pelo seu caráter inato.

A partir da escolha de um objeto sexual invertido, Freud também explora uma teoria em que as pessoas são inicialmente bissexuais, e têm potencialidade para desenvolver afeição por objetos de ambos os sexos, desenvolvida primeiramente por Wilhelm Fliess. Freud se utiliza da teoria da bissexualidade, pois para ele, a inversão não se explica por uma simples atração por alguém do mesmo sexo, como exemplifica Freud em um caso de inversão masculina:

“O objeto sexual não é do mesmo sexo, mas uma conjunção dos caracteres de ambos os sexos, como que um compromisso entre uma moção que anseia pelo homem e outra que anseia pela mulher, com a condição imprescindível da masculinidade do corpo (da genitália).” (FREUD, 1905a, p. 137)

Dado que a teoria da bissexualidade abrange os dois sexos, abre espaço para questionarmos por que usá-la apenas para explicar a inversão masculina. Mesmo assim, com esse trecho, Freud procura entender os diferentes posicionamentos apenas dos invertidos masculinos. Para ele, estes se dividem entre os invertidos que tentam se aproximar de uma posição mais feminina (desde semelhanças físicas até atributos anímicos) e os invertidos que são mais viris, mas que têm o primeiro tipo como objeto sexual, alguém do mesmo sexo, porém com esses atributos femininos. Tenta, assim, sempre manter uma complementaridade entre opostos feminino e masculino.

Freud atribui como possível causa dessa inversão, por exemplo, uma fixação breve na infância pela mãe. Após a superação desta fixação os meninos se identificam com a mãe e tomam jovens semelhantes a si como objeto sexual. Neste caso o menino amaria o outro como sua mãe o amou.

Outros exemplos de causas seriam, por exemplo, a retenção da importância da zona anal, a ausência de um pai forte na infância ou até a vigência de uma escolha narcísica de objeto. Essa última explicação para a homossexualidade masculina é curiosa ao pensarmos que, em 1932, em seu texto “Feminilidade”, Freud associa também a feminilidade a uma maior quantidade de narcisismo, pois para ele a mulher necessita mais ser amada do que amar alguém. Seria o narcisismo de alguma forma ligado ao feminino? Este, por sua vez, seria para Freud, ligado à homossexualidade masculina?

Esses aspectos são abordados por Freud em seu texto “Três ensaios sobre a sexualidade infantil”, porém, se trata de um acréscimo de 1915. Vale ressaltar que além de pequenos acréscimos durante o texto em forma de notas de rodapé, a totalidade das seções “a investigação sexual infantil” e “as fases de desenvolvimento da organização sexual”, que serão agora abordados, foram incluídos ao texto em 1915 e, portanto, trazem ideias elaboradas posteriormente por Freud.

Ainda sobre a homossexualidade masculina, Freud em seu texto “A organização genital infantil (Uma interpolação na teoria da sexualidade)” de 1923 comenta, a partir da sua teoria da castração, em que as meninas são vistas como inferiores, que disto pode decorrer uma disposição à homossexualidade, como podemos ver no trecho:

“A depreciação das mulheres, o horror a elas e a disposição ao homossexualismo derivam da convicção final de que as mulheres não possuem um pênis”. (FREUD, 1923, p. 160)

Freud não explica, porém, como se daria essa ligação entre inferioridade feminina e “homossexualismo” por parte dos homens, pois, se essa ligação fosse direta não teríamos homens heterossexuais. Fica em dúvida também o que faria os homens se atraírem por essas mulheres inferiores e castradas?

A inversão feminina, porém, é menos elaborada por Freud. Ainda em seus “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” ele descreve apenas que as invertidas ativas exibem características somáticas e anímicas de homem e anseiam por um objeto sexual feminino, deixando claro que seria necessário um conhecimento mais estreito para revelar uma variedade maior de invertidas.

A pouca exploração da inversão feminina é notada também no “Fragmento da análise de um caso de histeria” texto publicado no mesmo ano (1905) e escrito em 1901. Neste texto, Freud relata a análise de Dora, uma menina de 18 anos que supostamente seria apaixonada pelo marido da amante de seu pai, Sr. K. Porém apenas após o termino da análise, Freud cogita que Dora na verdade gostava da Sra. K (amante de seu pai e sua grande amiga e confidente). Com relação a essa hipótese de um amor homossexual de Dora, Freud declara ser um caso muito comum na adolescência, logo antes de um primeiro amor por um homem, mas também acentua que:

“Nas mulheres e moças histéricas cuja libido sexual voltada para o homem é energicamente suprimida, constata-se com regularidade que a libido dirigida para as mulheres é vicariamente reforçada e até parcialmente consciente”. (Freud, 1905b, p. 38)

Além desse comentário, Freud nada mais acrescenta acerca da inversão feminina, embora a descoberta do amor de Dora pela Sra. K tenha relevância para o caso, por exemplo, no que diz respeito à questão transferencial. Essa ausência de comentários e explicações sobre a sexualidade feminina é marcante nos textos de Freud. Mesmo em seus textos específicos sobre o desenvolvimento sexual das mulheres e a feminilidade em geral, ele sempre demonstra sua dificuldade e estranheza para falar sobre o assunto. Além disso, se limita a discutir as mulheres apenas no que é influenciado por sua sexualidade, e apesar de ser um meio abrangente, recomenda que:

“Se desejarem saber mais a respeito da feminilidade, indaguem da própria experiência de vida dos senhores, ou consultem os poetas, ou aguardem até que a ciência possa dar- lhes informações mais profundas e mais coerentes.” (FREUD, 1932, p. 134)

Ou ainda:

“A psicologia é incapaz de solucionar o enigma da feminilidade” (FREUD, 1932 p. 117).

Apesar das dificuldades de falar sobre a feminilidade e de pouco se deter sobre a homossexualidade feminina, Freud elabora o “complexo de masculinidade” como uma saída da menina para o complexo de castração por meio de uma formação reativa da inveja do pênis. A menina, após se entender castrada e inferior aos meninos, tem três diferentes saídas. A primeira seria uma renúncia a sua sexualidade de modo geral, na segunda, toma o pai como objeto e alcança a forma feminina do complexo de Édipo. E na terceira saída, a menina, como já dito, se afirma masculina até um período tardio, na esperança de voltar a ter um pênis ou então a menina pode até recusar o fato de ser castrada, acreditando possuir um pênis e portando-se como homem.

Freud, em 1931, em seu texto “Sexualidade feminina” complementa ainda que o “complexo de masculinidade” pode resultar até em uma escolha de objeto homossexual. Em 1932, no texto “Feminilidade”, ele reelabora o “complexo de masculinidade” realçando que o homossexualismo feminino raramente, ou nunca, é a continuação direta da masculinidade infantil. E acrescenta que a menina, neste período, se apega a sua atividade clitoriana e refugia-se em uma identificação com sua mãe fálica ou com o seu pai.

O complexo de masculinidade traz uma indagação de Freud de que a inveja do pênis pode levar à homossexualidade, que se parece com sua linha de raciocínio do trecho já citado de seu texto de 1923 no qual se pressupõe que a inferioridade das mulheres poderia servir como disposição para a homossexualidade nos homens. Em ambos os casos Freud apresenta uma suposta causa para a homossexualidade, e por isso acaba recebendo muitas críticas. No caso do complexo de masculinidade, até se corrige ao dizer que a homossexualidade não é uma continuação direta da masculinidade infantil, porém, ainda deixa aberta a hipótese de que, ainda que raramente, isso pode acontecer.

Essas críticas vieram muitas vezes de autoras como Gayle Rubin, Melanie Klein e Karen Horney, que serão abordadas neste trabalho.

Outra relação feita por Freud foi entre a masculinidade e a predominância da sexualidade clitoriana, o que pressupõe uma relação do clitóris como um pequeno pênis, e uma posição mais ativa como já foi discutido. O complexo de masculinidade pressupõe também, uma supervalorização do pênis, em que as mulheres se sentiriam tão inferiorizadas por sua ausência que chegariam ao ponto de se desvincular da realidade e acreditar ter um pênis realizando assim seu desejo.

Além disso, as três saídas do complexo de castração para a menina propostas por Freud parecem insuficientes para abranger toda a complexidade feminina que ele mesmo diz não compreender por completo. Com essa teoria, as mulheres homossexuais com características bem femininas, assim como as mulheres heterossexuais com uma posição mais ativa, não são contempladas.

Curiosidade Infantil

Ao descrever a sexualidade infantil, Freud apresenta a curiosidade como fator determinante para iniciar a exploração sexual e autoconhecimento. Seria através dessa curiosidade infantil que as pulsões parciais se formariam. E posteriormente motivaria atividades com certa independência de suas zonas erógenas através da exploração do meio em que vive.

Junto a isso cria-se uma forte pulsão de saber que não necessariamente está subordinada à sexualidade. Para Freud, em seu livro “Três ensaios sobre a sexualidade infantil”, as questões levantadas pelas crianças, de início, não viriam por uma questão da diferença sexual, mas pelo enigma de sua existência, de onde vêm os bebês.

A questão dos diferentes genitais, para Freud, se elabora principalmente nos meninos, em uma relação de presença ou ausência do genital. Com isso, criam-se outros dilemas, como por exemplo, o porquê alguns têm e outros não? Se as meninas teriam então perdido um pênis que possuíam? Como? E por quê? E se têm chance de perder o próprio pênis também. Essas teorias sexuais infantis, apesar de muitas vezes errôneas, seriam um reflexo da própria constituição da sua sexualidade através da busca pelo saber.

Em 1925, no texto “Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos”, Freud reelabora sua teoria até então, de que o interesse sexual das crianças, provinha do questionamento de onde viriam os bebês. Ele afirma agora que este interesse infantil vem, na verdade, da diferença entre os sexos. Essa diferença, ou “ausência”, e a consequente inveja do pênis, transpareceria na menina no complexo de masculinidade.

Ao mesmo tempo em que Freud escreve sobre as curiosidades infantis, tanto de conhecimento de suas zonas erógenas quanto na observação do órgão sexual de seus colegas de sexo oposto, ou até a pulsão de saber, ele, por outro lado, expõe sua ideia de que as meninas até certa idade não teriam o conhecimento de suas vaginas. Elas desconheceriam por completo sua vagina, órgão “verdadeiramente feminino”, para Freud. Ora, isso parece contradizer sua teoria da curiosidade exploratória infantil, em que algum momento, as meninas acabariam por explorar seu corpo e achariam a tal zona “adormecida”.

Além disso, a curiosidade exploratória infantil também pode ser entendida como uma ação ativa da menina, que na fase fálica, faz descobertas sobre o seu corpo também. Outro questionamento vindo dessa curiosidade sobre os diferentes corpos seria de que se as meninas têm inveja do pênis por ser um órgão externo, por que os meninos não tem inveja do seio materno?

Capítulo 2

Neste capítulo relataremos as críticas construídas para a teoria do complexo de Édipo feminino de Freud feitas pelas autoras; Melanie Klein, Karen Horney e Gayle Rubin.

Melanie Klein (1928)

A primeira a ser abordada é Klein, uma psicanalista austríaca que se posiciona como autora que complementa as ideias de Freud, porém, em seus textos muitas vezes traz ideias opostas as dele. Ela fez parte de grupos de psicanálise em Budapeste, Berlin e na Inglaterra e simpatizava com as ideias de Karl Abraham, que foi também seu analista. Klein construiu muitos conceitos sobre o complexo de Édipo, mas vamos nos deter em alguns aspectos que dialogam com os que destacamos anteriormente nos textos de Freud.

Em seu texto “Estágios iniciais do conflito edipiano” de 1928, ela apresenta algumas de suas principais críticas voltadas ao desenvolvimento sexual infantil tal como estabelecido por Freud. Klein defende que o complexo de Édipo ocorre mais cedo, no final do primeiro e início do segundo ano de vida como consequência da frustração sentida com o desmame, e que as fases do desenvolvimento não são linearmente ultrapassadas, mas se fundem umas com as outras. Ela ainda discute mais especificamente a sexualidade feminina a partir de 1922, quando assistiu ao VII Congresso da IPA, em que participou das primeiras discussões sobre a questão, a partir das críticas de Karen Horney aos textos de Freud. (ROUDINESCO, 1998, p. 431)

Em seu texto de 1928, Melanie Klein escreve sobre o desenvolvimento dos meninos e das meninas, abordando suas diferenças e semelhanças, porém tenta mudar a perspectiva freudiana mais centrada no menino. Ela traz um novo ângulo de observação para o desenvolvimento sexual através do objetivo sexual e não do objeto como faz Freud. Pela perspectiva de Freud, o menino mantém seu objeto e a menina deve trocar a mãe pelo pai. Já pela perspectiva de Klein, a menina mantem um objetivo receptivo e o menino passa a ter o objetivo da penetração, mas ambos devem trocar sua posição libidinal de anal para genital:

“O menino, quando se vê impelido a trocar a posição oral e anal pela genital, passa a ter o objetivo da penetração associado a posse do pênis. Assim, ele muda não só sua posição libidinal, mas também seu objetivo, o que permite que mantenha o objeto amoroso original. No caso da menina, por outro lado, o objetivo receptivo passa da posição oral para a genital: ela muda a sua posição libidinal, mas mantém o mesmo objetivo, que já levou à frustração em relação à mãe. Desse modo, a menina desenvolve a receptividade para o pênis e se volta para o pai como objeto amoroso.” (KLEIN, 1928, p. 216)

Uma grande mudança que Klein propõe em seu texto de 1928 é que o superego se forma anteriormente ao que foi proposto por Freud, mas ainda como resultado do complexo de Édipo. Ela descreve que o sentimento de culpa presente na fixação pré-genital é derivado do conflito edipiano (que também começa mais cedo). Os sentimentos de culpa vem como resultado da introjeção dos objetos edipianos, logo este sentimento é produto da formação do superego.

O superego para Klein é formado por imagens dos dois pais que “devoram, cortam e mordem” a criança. A explicação para esse superego tão rígido na infância é que a criança primeiramente quis “devorar, cortar e morder” o seu objeto de desejo no início do complexo de Édipo. Com a introjeção deste objeto a criança passa a temer ser punida por ele.

Em 1930, em seu texto “O Mal-Estar na Civilização”, Freud passa a se questionar sobre a origem da agressividade e concorda com Klein que ela seria muito primária na criança, que direcionaria esta agressividade “contra a autoridade que a impede de ter suas primeiras – e, também, mais importantes – satisfações” (Freud 1930), ou seja, os próprios pais. Freud concorda também que essa agressividade que a criança gostaria de exercer passa a constituir posteriormente o seu superego. Com isso conclui que à severidade do superego da criança de forma alguma corresponde a severidade com que ela foi tratada. Freud acrescenta em nota de rodapé (pq. 133) que essas ideias já haviam sido corretamente enfatizadas por Melanie Klein.

Após essa afirmação, ainda neste mesmo texto, Freud coloca o pai como única imagem formadora deste superego, diferindo assim das ideias de Klein em que o superego se formaria pela união das imagens dos pais. Em seus textos posteriores a este, que foram aqui analisados, Freud não mais comenta sobre um menor senso de justiça das mulheres que seriam influenciadas por seus sentimentos de afeição e hostilidade, como relata em seu texto de 1925, pois agora seria constituído igualmente ao dos homens. Em seu texto “Sexualidade feminina” de 1931 afirma porém, que as mulheres se portariam de maneira diferente ou menos adaptada que os homens perante a sociedade, por consequência de não terem seu complexo de Édipo completamente destruído, diferindo novamente das ideias de Klein.

A mulher, para Klein, se posicionaria perante a sociedade de maneira completamente contrária ao que Freud propõe. Para ela, a mulher teria a capacidade imensamente altruísta de deixar seus desejos de lado para se dedicar a tarefas éticas e sociais. A mulher, além de ter uma grande habilidade de auto sacrifício é, para Klein, muitas vezes o exemplo de extrema bondade para seus filhos. Assim, ela defende que a mulher em suas relações sociais tem um bom discernimento para tomar decisões e é capaz de realizar grandes feitos.

Em 1945, em seu texto “O complexo de Édipo à luz das ansiedades arcaicas”, Klein, reformula alguma de suas proposições sobre a formação do superego. Para ela o superego tanto na menina como no menino começa a se formar durante a fase oral, ao longo do complexo de Édipo, e não no seu final. Apesar de neste momento a primazia da libido ser oral, desde os primeiros anos de vida as crianças de ambos os sexos teriam sensações e tendências genitais assim como desejos e fantasias uretrais e anais, voltados tanto para o pai como para a mãe.

Klein além de propor assim o conhecimento inconsciente da menina de sua vagina através dessas sensações, ela quebra com a concepção de Freud de “fase fálica”, em que as crianças tinham o conhecimento apenas do pênis, e propõe a volta do termo “fase genital”. Além disso, Klein acrescenta que “A masturbação vaginal no início da infância é bem mais frequente do que se acredita” (Klein, M. 1945, pg.457) e portanto haveria sim uma curiosidade exploratória na menina que a faria tomar conhecimento de seu próprio órgão genital.

Klein propõe ainda mais mudanças para as ideias freudianas em relação ao superego. Voltando ao seu texto de 1928, ela defende que as crianças se identificam com ambos os pais e acabam por formar um superego paterno e um materno. Klein propõe que a menina se identifica com a mãe por seus traços femininos e não pela ausência do pênis. A menina também sofreria de um medo de castração, mas não de seus órgãos internos femininos que não vê, e sim de perder a sua beleza ou feminilidade. A perda da feminilidade seria análoga ao medo de castração no menino, e também serviria para diluir os impulsos edipianos.

Outra ruptura com Freud é que para Klein as crianças mudam diversas vezes seu objeto de desejo e com quem se identificam, passando da mãe para o pai e vice-versa. Essa mudanças ocorreriam por diversos motivos, entre eles raiva e culpa. Para ela a raiva que a menina sente pela mãe que não lhe deu um pênis é apenas um reforço para uma das mudanças de objeto, diferente de Freud que considerava esse o grande motivo para a menina escolher o pai como seu objeto amoroso.

Para Klein, tanto a menina quanto o menino deixariam de ter a mãe como objeto de desejo inicial, já que ambos mudam algumas vezes de objeto de desejo. A causa mais importante, para Klein, para o abandono da mãe e a opção pelo pai como objeto é a privação do seio materno no desmame. Ela retoma a ideia de Freud da frustração da menina com a mãe pelo desmame e não por ela não ter recebido o pênis da mãe. Ele havia abandonado esta teoria pois a frustração com o desmame ocorria com ambos os sexos, e para ele apenas a menina deixava de ter a mãe como objeto. Já para Klein como todas as crianças mudam de objeto de desejo ela retoma a teoria da frustração com a mãe pelo desmame.

Como o menino também se identifica com a mãe e tem o pai como objeto de desejo, Klein, desenvolve o que chama de fase da feminilidade. Com o surgimento das tendências edipianas nas crianças de ambos os sexos, as pulsões epistemofílicas e sádicas se voltam principalmente para o corpo da mãe. Neste momento a criança ainda está passando pela posição libidinal sádico-anal. Começa então uma identificação com a mãe, que formará essa fase da feminilidade.

Nesta fase, as fezes passam a ter um novo significado, o de um bebê que a criança espera ter. Assim, a criança não tem apenas o desejo de roubar a mãe para si, mas também suas fezes, seus bebês. Ela tem o desejo de ter um filho com a mãe, e ao mesmo tempo deseja destruir seus possíveis irmãos por ciúmes da mãe. Além de todos esses desejos voltados para o corpo da mãe, para Klein, a criança também busca dentro deste corpo o pênis do pai.

Klein defende que especialmente os meninos durante a fase da feminilidade, tem tendências de roubar e destruir os órgãos sexuais da mãe que estão ligados à fecundação, assim como seus seios, a fonte do leite. Os meninos invejam os órgãos receptivos. Com isso Klein cria um paralelo entre a falta dos órgãos receptivos nos meninos e a falta do pênis nas meninas:

“Assim como no complexo de castração das meninas, no complexo de feminilidade dos meninos há no fundo o desejo frustrado de possuir um órgão especial. As tendências de roubar e destruir estão ligadas aos órgãos de fecundação, gravidez e parto que o menino presume existirem na mãe, assim como à vagina e os seios, a fonte do leite, cobiçados como órgãos de receptividade e fartura desde o tempo em que a posição libidinal é puramente oral.” (KLEIN, 1928, p. 219)

O menino passa a temer ser punido com a destruição do corpo da mãe, o que significaria também uma castração. Ao mesmo tempo, esta mãe é castradora ao tomar as fezes do menino. Combinado a este medo de ser castrado pela mãe, vem o pavor de também ser castrado pelo pai. Neste momento, o medo é de perder o pênis do pai que está no corpo da mãe.

O corpo da mãe, para Klein, tem uma grande importância. Este corpo é objeto de desejos e fantasias das crianças, e ao mesmo tempo símbolo de castração. A centralidade que o pênis do menino tinha no complexo de Édipo para Freud, é então voltada para o corpo da mãe na teoria de Klein. Ela rompe com a ideia de que a curiosidade infantil vem da diferença entre os sexos, e propõe que viria da inquietação com o corpo materno.

Apesar de Klein propor várias alterações às construções freudianas no sentido de igualar os sexos, como o complexo de feminilidade e a inveja dos órgãos internos femininos, ela propõe que a menina ainda cria diferentes ansiedades e frustrações em comparação ao menino. Isso ocorre pois o menino possui o pênis, órgão exterior e concreto, enquanto a menina possui o útero, órgão interno, que apesar de lhe dar a chance de ser mãe, essa ainda é uma realidade longínqua. Os meninos também criam uma ansiedade diferente como descreve no texto:

“A tendência dos meninos de exibir a agressividade excessiva, coisa que ocorre com muita frequência, tem sua origem no complexo de feminilidade. Ela é acompanhada por uma atitude de desprezo e de “saber melhor”, além de ser extremamente antissocial e sádica, sendo determinada em parte pela tentativa de ocultar a ansiedade e a ignorância que se encontram por trás dela.” (KLEIN, 1928, p.220)

As ideias de Klein não apenas complementam as de Freud como ela mesma defende, mas trazem críticas positivas à posição da mulher tanto no seu desenvolvimento sexual, mas também em sua relação com a sociedade. Podemos então elencar algumas das principais propostas de Klein. Para ela, desde a mais terna infância o desenvolvimento sexual tanto do menino quanto da menina incluem sensações genitais; as tendências edipianas positivas e negativas se alternam desde o início; em ambos os sexos o superego começa a se formar na fase oral; o sentimento de culpa não aparece com o fim do complexo de Édipo, mas sim como um dos fatores que moldam seu desenvolvimento.

Karen Horney (1924)

A psicanalista Karen Horney e autora de obras acerca da personalidade, mostrou diversas vezes uma discordância a respeito dos conceitos de Freud. Horney escreveu “On the genesis of the castration complex in women” em 1924, no qual busca compreender o complexo de castração e a formação da inveja do pênis na menina.

Esta autora questiona o complexo de castração feminino como foi descrito por Freud, em que todas as mulheres sofrem, mesmo que de diferentes maneiras, por inveja do pênis. A inveja do pênis pressupõe uma desvalorização do sexo feminino e um descontentamento das mulheres com o seu sexo, o que para Horney é inadmissível:

“Contudo, a conclusão até agora retirada das investigações – que leva à afirmação de que a metade da raça humana está descontente com o sexo atribuído a ela e pode superar esse descontentamento somente em circunstâncias favoráveis - é decididamente insatisfatória.” (HORNEY, 1993, p. 38, nossa tradução)
Nevertheless, the conclusion so far drawn from the investigations - amounting as it does to an assertion that one half of the human race is discontented with the sex assigned to it and can overcome this discontent only in favorable circumstances - is decidedly unsatisfying.

Horney considera a possibilidade de uma menina que não tem um irmão favorito para ter inveja ou nenhum outro contato mais próximo com outros homens, e indaga como então ela desenvolveria a inveja do pênis. Mesmo questionando a unanimidade e a centralidade da inveja do pênis e o mal estar das mulheres com relação ao seu sexo, Horney tenta compreender os fatores que levariam a menina a sentir essa inveja.

Horney elabora a hipótese de que a menina primeiramente deseja urinar como os homens. Este desejo é explicado por três componentes: O primeiro envolve o erotismo uretral e uma fantasia de onipotência que são associados ao jato de urina dos homens, os quais podem controlar seu alcance e direção. O controle para urinar simboliza também um controle que o menino tem de suas ações e de seu corpo. A menina, porém, não teria o controle de seu próprio corpo e nem ao menos o acesso a ele.

O segundo fator que corrobora com a inveja do pênis é a visibilidade do órgão masculino que satisfaz a pulsão escópica do menino e sua curiosidade. Além do desejo de observar o próprio corpo a menina sente falta de exibi-lo, sente falta de mostrar posse, que tem o controle de algo, mesmo sendo seu próprio órgão. Um exemplo é o caso de uma paciente de Horney que gostaria de ter um pênis como o do pai para poder mostrá-lo a cada vez que fosse urinar. Como as mulheres não tem o pênis para exibir, suas tendências exibicionistas se expandem para o corpo inteiro.

Quanto ao terceiro componente que explica o desejo de urinar como os meninos, Horney propõe que a menina faz uma associação majoritariamente e que portanto teria permissão também para se masturbar.

“Por fim, o desejo que eu assumi ser o protótipo da inveja do pênis tem em si um terceiro elemento, ou seja, desejos onanistas suprimidos, como uma regra profundamente escondida, mas ainda assim importante por conta disso. Este elemento pode ser atribuído a uma conexão de ideias (principalmente inconscientes), pelo qual o fato de que os meninos serem autorizados a tomar posse de seu genital ao urinar é interpretado como uma permissão para se masturbar.” (HORNEY, 1993, p. 41, nossa tradução)
“Finally, the wish that I have assumed to be the prototype of penis envy has in it a third element, namely, suppressed onanistic wishes, as a rule deeply hidden but nonetheless important on that account. this element may be traced to a connection of ideas (mostly unconscious) by which the fact that boys are permitted to take hold of their genital when urinating is construed as a permission to masturbate.”

As meninas, por não terem nenhuma ocasião em que podem se tocar e explorar o próprio corpo, mais dificilmente encontram autossatisfação, pois, se sentem privadas deste prazer. Isso é, diferente da situação dos meninos que conseguem compreender melhor seu corpo, a quem é permitido ver, tocar e exibir seu órgão. Além disso, eles podem encontrar satisfação com seu corpo, para então se direcionar mais facilmente a objetos exteriores. Assim, os homens teriam, para Horney, uma sexualidade mais bem resolvida do que as mulheres.

Horney traz assim uma explicação para a pouca masturbação feminina que por tanto tempo foi um mistério para Freud. A menina, além de ter menos visibilidade de seu órgão sexual, e não poder manipulá-lo ao urinar, compreende que não lhe é permitido se masturbar assim como se tocar. Além disso, as meninas se sentem injustamente proibidas de fazer algo que os meninos podem, simplesmente por sua diferença anatômica. Como vemos, Horney ainda se baseia em uma diferença anatômica para explicar o diferente desenvolvimento entre os sexos. Ainda assim, sua perspectiva mostra uma curiosidade infantil pelo corpo e um desejo de atividade em relação ao órgão genital que Freud buscou negar nas mulheres.

Deve-se ressaltar que para Horney a inveja do pênis não é um fenômeno inevitável, mas que apenas complica o desenvolvimento feminino. E concorda com Klein que a gratificação que a menina sentirá um dia por ser mãe também não traz nenhuma recompensa imediata para ela e, portanto, não diminui suas angústias de castração.

Após uma análise mais aprofundada da inveja do pênis na menina, Horney questiona então se essa inveja deve realmente ocupar o papel central no complexo de castração. Ela acredita que Freud concedeu demasiada importância à inveja do pênis, como processo fundamental para a entrada da menina no complexo de Édipo. Assim, Horney procura outros fatores que compõem o complexo de castração e que são determinantes para o desenvolvimento da menina.

Para melhor compreender o complexo de castração, Horney passa a analisar a relação das meninas que não apenas querem ter um pênis, mas querem também ser um homem, e relata que em seu passado elas tiveram uma fixação muito forte pelo pai. A partir desta relação conclui que o desejo narcísico de possuir um pênis é, na verdade, apenas uma expressão do desejo da menina pelo pai, ou então do desejo de ter um filho do pai. Esses desejos, presentes em todas as mulheres de acordo com Freud, podem transparecer, por exemplo, em pacientes que acreditam terem sido abusadas pelo pai, ou de manterem um caso amoroso com ele. Com isso Horney transfere o foco da inveja do pênis para a relação de amor da menina com seu pai e sua desilusão.

Esse forte sentimento amoroso em relação ao pai traz também uma grande expectativa e possivelmente uma grande decepção. A menina passa a ter inveja da relação da mãe com o pai e dos filhos que esta pode ter com ele. Para Horney, essa inveja do filho que a menina queria ter com o pai é deslocada para um possível irmão ou amigo e então para seus respectivos pênis. Assim, a inveja do pênis é apenas um reflexo da inveja de ter um filho do pai. Com isso Horney desmistifica a inveja do pênis, que para Freud era simplesmente justificada pela maior visibilidade do órgão masculino, que criava a impressão de apenas os meninos possuírem um órgão genital.

Horney traz como cerne do complexo de castração a desilusão do amor da menina pelo pai. A partir desta relação a menina tem, para Horney, duas saídas deste complexo. Na primeira a menina deixa de ter o pai como objeto de desejo e passa a identificar-se com ele. Isso ocorre, pois a menina sofre uma grande decepção com o pai ao compreender que não pode manter uma relação amorosa com ele e nem ter um filho dele. Muitas meninas que demonstram um desejo de ser um homem ou parecer-se com um, na verdade, gostariam de ser igual ao próprio pai. Horney resume então que:

“A grosso modo deve ser explicado como se segue: (1) a inveja relativa à criança [que ela gostaria de obter de seu pai] foi deslocada para o irmão e seu genital; (2) isso seguiu claramente o mecanismo descoberto por Freud, pelo qual o pai como objeto de amor é abandonado e a relação objetal para ele é regressivamente substituída por uma identificação com ele.” (HORNEY, 1993, p. 47-48, nossa tradução)
“Quite roughly it may be outlined as follows: (1) the envy relating to the child was displaced to the brother and his genital; (2) there clearly ensued the mechanism discovered by Freud, by which the father as love object is given up and the object relation to him is regressively replaced by an identification with him.”

A identificação com o pai pela menina representa uma nova mudança de objeto. Horney compreende assim como Klein que ocorre uma oscilação entre identificações com o pai e a mãe tanto nas meninas como nos meninos.

Horney relaciona a identificação da menina com o pai com uma possível homossexualidade nas mulheres. Ela retoma a proposição de Freud em seu texto “A psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher”, de 1920, em que a identificação da menina com o pai, em seu desenvolvimento, seria uma das bases para se manifestar a homossexualidade. Ela concorda com Freud que, sem exceção, em todos os casos em que ocorre uma maior fixação no complexo de castração, se tem uma tendência mesmo que em diferentes graus à homossexualidade. Porém, Horney, traz como outra saída para a identificação com o pai, uma regressão narcísica, em que a menina se compreenderia como um homem sem necessariamente desejar outra mulher. Vemos aqui um diálogo estabelecido com a ideia freudiana de complexo de masculinidade em que Horney, de certa maneira, separa gênero de sexo. A menina pode se identificar com o pai e, nesse sentido, ser “masculina” sem fazer uma escolha de objeto homossexual Horney destaca ainda que o repúdio à feminilidade baseado na inveja do pênis, como foi proposto por Freud, não faz sentido. Para ela, é apenas quando ocorre a decepção amorosa com o pai que a menina abandona o papel feminino.

A segunda saída do complexo de castração na menina se baseia em uma fantasia que ela cria de ter sido castrada pelo pai. Neste caso a menina tem fantasias de ter sofrido vários tipos de violência do pai como, por exemplo, uma das pacientes de Horney que acreditava estar constantemente doente, com problemas em seus pulmões, estômago e intestino, e acreditava que de alguma forma era seu pai que provocava isso. Essa paciente acreditava também que havia sofrido diversas cirurgias de laparotomia (procedimento em que se faz uma incisão exploratória no abdômen).

Este sentimento de ser agredida ou mutilada aparece como expressão da fantasia de ter sido castrada pelo pai. O pai castra o órgão imaginário da filha através da relação amorosa/sexual com ela. Deve-se notar que Horney rompe com a ideia de Freud de que a menina se sente castrada pela mãe que não lhe deu um pênis, para ela é o pai quem castra. E ela faz uma inversão na ideia de Freud, já que o complexo de castração conclui o complexo de Édipo e não o inicia.

Para Horney, na fantasia da menina, ocorre a sedução e defloramento pelo pai. Assim, muitas vezes, essas meninas em sua primeira relação sexual descarregam em seus parceiros sentimentos de revanche que deveriam ser direcionados ao pai. Essa fantasia de sedução aparenta ser quase filogenética, pois apresenta-se em toda as mulheres, e para Horney, é mais relevante para o desenvolvimento sexual feminino que a inveja do pênis.

Horney propõe então que a inveja do pênis não ocupa um papel central no complexo de castração. Ela explica, ainda assim, que a inveja na menina é de poder ver, tocar e exibir seu órgão sexual como os meninos, ou até de ter o direito de se masturbar. Assim, o complexo de castração passa a ter um maior foco na desilusão amorosa de menina com o pai do que na inveja de pênis. A partir dessa desilusão, a menina tem dois caminhos, ou ela pode se identificar com o pai ou elaborar uma fantasia de que foi seduzida por ele.

Gayle Rubin (1975)

A antropóloga Gayle Rubin é autora de diversos textos sobre sexualidade nos quais traz discussões sobre sexo e gênero, a partir do ponto de vista feminista. Em seu texto “O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo”, de 1975, Rubin descreve como a sexualidade humana passa a ser um produto econômico e debate a posição do sexo feminino na sociedade. Neste texto, ela dialoga com autores como Marx, Engels, Lévi-Strauss, Freud e Lacan. Ao discutir a posição das mulheres na psicanálise, Rubin critica a elaboração do complexo de Édipo feminino descrito por Freud.

Ao retomar os conceitos freudianos de Édipo, Rubin destaca a fase pré- edipiana em que as crianças eram descritas como bissexuais. Para ela, se as crianças eram psiquicamente indistinguíveis, a diferenciação entre os sexos masculino e feminino não é assumida, mas sim explicada às crianças. Com isso, Rubin propõe que a divisão por gênero é socialmente construída, e não necessariamente tem ligação com o sexo da pessoa, isto porque, pode-se ensinar como agir de acordo com um gênero, pode-se ensinar como ser masculino, tanto para meninos como para as meninas. Esta ideia separa claramente o que Freud muitas vezes tentou esclarecer, que a mulher ou a menina, não se enquadram, necessariamente, no gênero feminino e assim não podem ser usadas como sinônimos deste como foi feito por Freud em seus diversos textos.

Na análise da fase pré-edipiana Rubin aponta mais algumas críticas especificamente para o desenvolvimento das meninas como nos seguintes trechos:

“Particularmente, as características da menina pré-edipiana desafiam as ideias de uma heterossexualidade e identidade de gênero primordiais. Já que a atividade libidinal na menina estava dirigida à mãe, sua heterossexualidade adulta tinha que ser explicada.” (RUBIN, 1975, p. 14)
“Além do mais, a menina não manifestava uma atitude libidinal “feminina”. Já que o seu desejo pela mãe era ativo e agressivo, seu acesso final à “feminilidade” tinha também que ser explicado.” (RUBIN, 1975, p. 15)

No primeiro trecho, Rubin questiona a heterossexualidade imposta socialmente, já que para Freud a primeira relação de objeto das meninas é homossexual, e portanto destrói a hipótese de que a heterossexualidade seria algo inato do ser humano. No segundo trecho, indaga a dualidade de Freud, ao destacar que a relação da menina com a mãe, na fase pré-edipiana, é ativa e agressiva e não seria então da “natureza” feminina a passividade. Freud, apesar de descrever assim a relação da menina com a mãe nesta fase, não explicou como ocorre a repressão dos elementos “masculinos” de sua libido. Para Rubin, Freud elabora os complexos de castração e a inveja do pênis para explicar a aquisição da “feminilidade” e com isso enfurece as feministas.

Apesar das críticas, Rubin defende Freud de acusações como a de ser um determinista biológico. As acusações são de que a feminilidade para Freud é consequência direta da diferença entre os sexos. Rubin ressalta porém, que até em seus textos mais biologizantes, Freud explica a inferioridade feminina como um contexto situacional, e que a sexualidade adulta não decorre de um desenvolvimento biológico, mas sim social.

Rubin sugere que “Se a lésbica pré-edipiana não fosse confrontada pela heterossexualidade da mãe, ela poderia extrair conclusões diferentes a respeito do status relativo dos seus genitais” (RUBIN, 1993, p.15), ou seja, se não fosse o controle social da heterossexualidade, poderíamos compreender melhor as escolhas libidinais das meninas.

Com isso, demonstra que a identidade de gênero e a escolha de objetos de desejo são moldados de acordo com a sociedade em que as crianças vivem. A cultura estipula diversos contratos sociais que determinam como devemos nos comportar e o que podemos ou não fazer, e determina também como deve ser estabelecido o gênero e para quem direcionar sua libido. A identificação da criança com o pai de sexo oposto, como descreve Freud, não é um processo natural, e nem “mais adaptado", mas um processo cultural de aprendizagem de gênero, em uma sociedade que preza a heterossexualidade.

Rubin passa a analisar as diferenças entre os sexos, que não se restringem apenas a ausência ou presença do pênis. Ela recorre ao conceito elaborado por Lacan, o phallus, que ultrapassa o sentido concreto do pênis, e abrange seu conteúdo simbólico. O phallus é o conjunto de diversos significados atribuídos ao pênis. Com isso, podemos compreender que a diferença entre os sexos não é apenas a posse do órgão sexual masculino, mas de um conjunto simbólico de poder do homem sobre a mulher. Segundo Rubin, mesmo Lacan ultrapassando a ideia de inveja de um pênis real, e compreendendo os diversos conteúdos simbólicos que carregam a diferença entre os sexos, ainda mantém a estrutura de Freud de que homens são aqueles que possuem o phallus e as mulheres não.

Com essa noção de phallus é possível compreender melhor a inveja do pênis. As meninas compreendem que é necessário ter um pênis para obter a mãe, mas não porque o pênis é um órgão superior em si, mas por que pela regra social apenas quem o possui, quem tem o poder, pode tê-la. Isso é decorrente da hierarquia dos órgãos genitais e da heterossexualidade obrigatória.

Com relação às conclusões trazidas por Freud sobre o complexo de Édipo feminino, Rubin critica as poucas opções elaboradas pelo autor:

“Na verdade, Freud diz que existem três caminhos alternativos para sair da catástrofe edipiana. A menina pode simplesmente enlouquecer, reprimir completamente a sexualidade e se tornar assexual. Ela pode protestar, apegar-se a seu narcisismo e desejo, e se tornar ou “masculina” ou homossexual. Ou ela pode aceitar a situação, assinar o contrato social e atingir a “normalidade”. (RUBIN, 1975 p. 19)”

A primeira alternativa feminina, a repressão completa de sua sexualidade, seria condizente com uma enorme repressão social pela qual a menina passa durante seu desenvolvimento sexual. Já a menina que não se conforma com o contrato social da desigualdade dos sexos se assemelharia ao sexo dominante, ao homem, tanto no jeito, como na escolha de um objeto que é apenas permitido a ele. A última alternativa é, a menina atingir a “normalidade”, ou seja, aceitar os pressupostos sociais e assumir o estereótipo de mulher que lhe é esperado.

Rubin também faz uma crítica à ideia freudiana da passividade feminina, em que as meninas teriam que aceitar um posição passiva ao reconhecer a desigualdade dos sexos. Sobre a divisão que Freud estabelece do erotismo ativo no clitóris e um erotismo passivo na vagina, Rubin retoma:

“Desde os trabalhos de Masters e Johnson, é evidente que esta divisão genital é falsa. Qualquer órgão – pênis, clitóris, vagina – pode ser o lócus tanto do erotismo ativo como passivo. (...) Não é um órgão que está reprimido, mas um segmento de possibilidade erótica.” (RUBIN, 1975, p. 18)

Em sua análise do complexo de Édipo e das proposições de Freud acerca das mulheres, Rubin retoma uma crítica da autora Karen Horney de que a mulher teria a sua vida baseada em um grande ressentimento amoroso com relação a mãe e se conformar em ter o pai como objeto. Com isso, para Horney haveria metade da humanidade insatisfeita com o seu objeto amoroso e sua sexualidade. Rubin contra argumenta que a formação da sexualidade na menina dentro desta sociedade que a reprime pode ser considerada um ato de brutalidade psíquica em que ela será submetida a uma vida de ressentimento. A mulher além de ter poucos meios de expressar essa raiva reprimida, já foi preparada desde pequena para conviver com a opressão.

Rubin traz uma visão social do complexo de Édipo. Ela questiona a necessidade de uma escolha de objeto heterossexual e aponta isso como uma imposição social. Além disso compara a “normalidade” feminina, que para Freud deveria ser alcançada pelas mulheres, à opressão de gênero também imposta socialmente. Outra comparação é a da inveja do pênis com a hierarquia entre os sexos, o masculino sobre o feminino, em que a menina não inveja o órgão, mas sim a posição de poder do homem.

Muitas vezes demonstra como a mulher sofre uma opressão social que a limita em muitas satisfações pessoais. E ela propõe que se houvesse igualdade de gênero, se a heterossexualidade não fosse obrigatória, se as meninas não fossem tão reprimidas, se não houvesse a supervalorização do pênis ou por fim, se não houvesse divisão de gênero, o drama edipiano não faria sentido algum. Ou seja, o complexo de Édipo é baseado em uma cultura e em suas regras sociais.

Conclusão

O presente trabalho busca retomar conceitos relacionados ao complexo de Édipo freudiano e posteriormente a análise de autoras feministas que criticaram o tema. As alterações que Freud desenvolveu ao longo de sua obra, em seu modelo de complexo de Édipo feminino, foram coerentes com sua busca para compreender melhor as mulheres que, até em seus últimos trabalhos, afirmou não entender. A partir de críticas de outros autores, e mesmo com o tempo, Freud foi formulando novas ideias não só sobre esse complexo, mas sobre todo o desenvolvimento da sexualidade feminina e suas implicações.

No conceito de complexo de Édipo feminino em Freud, três aspectos se destacaram em nossa análise como passiveis de crítica. Eles estão vinculados ao complexo de castração e à inveja do pênis. No contraste entre atividade e passividade, que compõe a base das características universais da vida sexual, Freud relaciona as meninas a uma posição passiva e ao recalcamento sexual. A menina quer ser desejada enquanto o menino teria uma posição ativa de possuidor do objeto de desejo. Freud mistura gênero e posições ativa e passiva, sem questionar. Além disso, Freud pouco elabora a homossexualidade feminina limitando-se a descrever o “complexo de masculinidade” por meio de uma formação reativa da inveja do pênis. Freud apresenta, ainda, a curiosidade infantil como fator determinante para a exploração sexual e o autoconhecimento, mas diz que as meninas até certa idade não teriam o conhecimento de suas vaginas.

Diante destes elementos, vimos Melanie Klein defender que o complexo de Édipo ocorre mais cedo como consequência do desmame e que, além disso, o superego também se forma precocemente. Klein contraria a afirmação de Freud de que as mulheres tem um menor senso de justiça e afirma que a mulher tem imensa capacidade altruísta para se dedicar a tarefas éticas e sociais. A mulher também teria o conhecimento inconsciente da vagina, existiria masturbação vaginal e, portanto, uma curiosidade exploratória de seu corpo. Em relação aos meninos, estes invejariam alguns órgãos femininos: os seios, fonte do leite e o útero ligado à fecundação.

Para Karen Horney, o complexo de castração não estaria exclusivamente ligado à inveja do pênis, mas ao desejo de urinar como os homens. Este é explicado por três componentes: erotismo uretral e fantasia de onipotência; visibilidade do órgão e satisfação da pulsão escópica; o terceiro seria a associação entre a permissão para tocar no órgão e, consequentemente, para se masturbar.

Por último, vimos com Gayle Rubin a contradição que existe em Freud na descrição do gênero feminino na passagem da fase pré-edípica ao complexo de Édipo. Na fase pré-edípica Freud descreve a menina como ativa e com uma escolha de objeto homossexual (sua mãe), no complexo de Édipo essa menina se tornará “normal”: passiva e com a escolha de objeto heterossexual. Para Rubin, essa mudança não é óbvia e tampouco necessária. A “normalidade” entendida dessa maneira só é explicada por imposições e exigências sociais.

Estamos de acordo com as críticas apontadas pelas autoras feministas que, em diferentes épocas, sugerem uma revisão do conceito analisado. Os argumentos que defendem essa revisão se baseiam em diferentes materiais clínicos daquele utilizado por Freud. Tanto Klein quanto Horney ampliaram suas observações a partir da análise de crianças pequenas, de pacientes graves, ou simplesmente de um maior número de mulheres. Com o maior material clínico foi possível observar os mesmos fenômenos desde outra perspectiva, como por exemplo fez Melanie Klein ao analisar o desenvolvimento da sexualidade infantil com pacientes crianças, ao invés de apenas adultos como foi o caso de Freud.

Já em relação às críticas feitas por Rubin é necessário destacar o contexto em que ela vivia. Rubin nasceu em 1949, em São Francisco, e acompanhou diversas mudanças sociais. Em 1956 foi inventada a pílula anticoncepcional, que trouxe à mulher uma maior liberdade sexual, pois não corria mais o risco de uma gravidez indesejada. Nessa época também haviam movimentos feministas, gays e lésbicos, dos quais ela participou ativamente.

Assim, Rubin tem novos elementos para criticar e até ironizar o complexo de Édipo feminino para Freud cuja visão de mulher “normal” não era mais compatível com a da mulher de sua época.

Além disso, as críticas foram feitas por mulheres que não se sentiram bem representadas pela visão masculina da natureza da mulher. Assim, foram buscar em suas experiências clínicas e acadêmicas novas respostas para o desenvolvimento sexual da mulher e seu lugar na sociedade. Elas levaram ainda em consideração aspectos históricos, o desconforto perante uma postura que consideraram misógina e de certa maneira estimularam e ainda estimulam a aproximação entre a psicanálise e as teorias de gênero.

Quanto à questão do gênero, divisão a qual já estamos tão habituados a ponto de ser difícil pensar em um mundo sem ele, veio de muitos anos de história e começou com a organização do trabalho e da sociedade. Porém, em tempos modernos, em que a mulher entrou no mercado de trabalho e os homens ajudam nas tarefas domésticas, em que, por lei, homens e mulheres tem direitos iguais, a divisão dos gêneros se reproduz por si mesma e sem um grande uso prático e social.

As contribuições dessas autoras levantam ainda discussões que são promovidas até os dias atuais e que colaboram na compreensão da mulher da sociedade contemporânea. Trata se de questões como a da ética feminina, das diferenças de gênero e seus estereótipos ou da homossexualidade. Ainda não se tem um consenso sobre nenhuma dessas questões, mas muitos avanços foram feitos desde Freud até as feministas da década de 1970, como pudemos observar nesta pesquisa.

Cabe aqui esclarecer que nosso intuito era também o de analisar um texto de Juliet Mitchell, psicanalista feminista da década de 70, mas que isso não foi possível devido ao encurtamento do prazo de entrega desse trabalho (previsto inicialmente para final do mês de setembro). Acreditamos que, ainda assim, o resultado alcançado foi satisfatório. Registramos nosso interesse em dar continuidade a essa pesquisa e incluir essa autora numa ocasião futura.

Referências Bibliográficas

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Organização Genital Infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade. In: . Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1923.

A dissolução do complexo de Édipo. In: . Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1924.

Algumas consequências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos. In: . Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V. XIX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1925.

O mal-estar na civilização. In: . Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1930.

Sexualidade feminina. In: . Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1931.

Conferência XXXIII - Feminilidade. In: . Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V. XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1933.

HORNEY, K. On the genesis of the castration complex in women. In: . Feminine Psychology. New York: W. W. Norton & Company Ltd. p. 37-53, 1993. Publicado originalmente em (1924 ou 1932)

KLEIN, M. Estágios inicias do complexo Edipiano. In: . Amor, culpa e reparação. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1928.

O complexo de Édipo à luz das ansiedade arcaicas. In: . Amor, culpa e reparação. Rio de Janeiro: Imago, 1996. Publicado originalmente em 1945.

LAPLANCHE, J. & PONTALIS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1982. Publicado originalmente em 1967.

ROUDINESCO, E; Plon, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. Publicado originalmente em 1997.

RUBIN, G. O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo. Recife: S.O.S. CORPO, 1993. Publicado originalmente em 1957.

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